A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA - PARTE 11 | FICHAMENTO
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SANTOS, Milton. A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2013.
A ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS CIDADES: A CIDADE CAÓTICA
“Com diferença de grau e intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. Se tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem etc. são elementos de diferenciação, mas, em todas elas, problemas como os do emprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde são genéricos e revelam enormes carências.” (p. 105)
Este capítulo é uma espécie de introdução à organização das cidades brasileiras. Nele vamos compreender como é ditada pelas grandes empresas hegemônicas a configuração do espaço urbano, carregado de problemas que estão presentes em todas as cidades do país, porém mais evidentes quanto maiores são as cidades.
Esse modelo de organização é chamado pelo Milton Santos de urbanização corporativa, que se estabeleceu a partir da segunda metade do século XX. A cidade moderna cresceu e se desenvolveu sob o comando e desígnios das grandes firmas, que passaram a consumir os recursos públicos em nome do próprio lucro em detrimento dos gastos sociais.
Na atual organização interna das cidades, a diversidade se mostra menor quanto menor é a aglomeração. Nas cidades espraiadas, definidas pelo autor como aquelas que se expandiram fisicamente no espaço apoiadas no modelo rodoviário de circulação, a complexidade é muito maior. Nesses lugares, as diversas categorias, atividades e setores são interdependentes, selecionando os espaços e a criação do modelo centro versus periferia.
A especulação teve um papel fundamental no desenvolvimento da cidade moderna. Influenciando no tamanho das cidades e influenciada por elas, essa atividade cria escassez e se alimenta do déficit habitacional, levando a mais especulação e periferizando os mais pobres, colocando-os sob a carência de serviços básicos e impondo a eles longos deslocamentos até seus locais de trabalho, normalmente situados nos centros privilegiados.
Para Santos, a especulação imobiliária é derivada de dois movimentos combinados: a sobreposição do social ao natural e a disputa por determinadas áreas por pessoas ou empresas. Trabalhando com as expectativas, a especulação, por meio do lobby, transforma os espaços de acordo com seus interesses, tornando alguns pontos mais acessíveis e bem servidos de infraestrutura e dinamismo submetendo, assim, o desenvolvimento da cidade aos mecanismos do mercado imobiliário.
Essa condição afirma a lei da escassez e amplia as diferenças fazendo com que alguns espaços sejam mais valorizados, bem servidos dos meios de circulação, serviços e infraestrutura do que outros. Em certas localidades, imóveis e terrenos são mantidos vazios pelos seus proprietários à espera de uma valorização futura agravando a situação da falta ou precarização das moradias aos mais pobres, sempre mal recebidos e expulsos das áreas centrais. Dessa forma,
“A organização interna de nossas cidades, grandes, pequenas e médias, revela um problema estrutural, cuja análise sistêmica permite verificar como todos mutuamente se causam, perpetuando a problemática.” (p. 107)
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