A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA - PARTE 10 | FICHAMENTO


 TEXTO ANTERIOR: TENDÊNCIA À DESMETROPOLIZAÇÃO?

SANTOS, Milton. A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2013.


A "DISSOLUÇÃO" DA METRÓPOLE

“Recentemente, as tendências à dispersão começam a se impor e atingem parcela cada vez mais importante dos fatores, distribuídos em áreas mais vastas e lugares mais numerosos. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a integração do espaço brasileiro e a modernização capitalista ensejam, em primeiro lugar, uma difusão social e geográfica do consumo em suas diversas modalidades e, posteriormente, a desconcentração da produção moderna, tanto agrícola como industrial.” (p. 100)

O autor inicia o capítulo traçando um panorama da importância das metrópoles ao longo da história do Brasil. Num primeiro momento, as regiões metropolitanas se constituíam como um arquipélago, sendo cada uma delas uma espécie de ilha, isolada das outras e de difícil comunicação; depois ocorre a formação de um mercado unificado, com integração praticamente restrita às regiões Sudeste e Sul; a terceira fase se caracterizou pela constituição de um mercado nacional; e, na última fase, deu-se um ajustamento em tempos de expansão e de crise articulado pelas empresas hegemônicas.

No atual momento, assistimos a uma tendência de dispersão metropolitana, movimento que se tornou mais forte após a Segunda Guerra Mundial com a modernização capitalista e consequente difusão do consumo. Ao mesmo tempo, há uma forte concentração do comércio em diversos níveis do território, mantendo apenas os pequenos comércios dispersos.

As grandes empresas concentram para si o controle da produção, condição essa dependente do trabalho intelectual, também concentrado. Essa nova tendência ajudou a criar uma nova divisão territorial do trabalho, que privilegia São Paulo e cidades vizinhas com o acúmulo de atividades intelectuais à serviço do capitalismo moderno, condições para o desenvolvimento de diversas atividades de ponta e novas possibilidades para manutenção de sua hegemonia. Assim,

“Atividades modernas, presentes em diversos pontos do país, necessitam apoiar-se em São Paulo para um número crescente de tarefas. São Paulo fica presente em todo o território brasileiro, graças a esses novos nexos, geradores de fluxos de informação indispensáveis ao trabalho produtivo.” (p. 100)

Variáveis modernas se difundem pelo território, mas elas dependem das variáveis geograficamente concentradas, processando um movimento dialógico de dispersão e concentração complementares e contraditórias. Neste espaço mais unificado e fluído, o lugar precisa ser funcional, garantindo instantaneidade e simultaneidade.

Essa simultaneidade dos lugares é caracterizada pela multiplicação do tempo e está dada no tempo social, que ditado pela metrópole e determinada pelo Estado e pelas grandes empresas. Logo,

“Em cada outro ponto, nodal ou não, da rede urbana ou do espaço, temos tempos subalternos e diferenciados, marcados por dominâncias específicas. Com isso, nova hierarquia se impõe entre lugares, hierarquia com nova qualidade, com base em diferenciação muitas vezes maior do que ontem, entre os diversos pontos do território.” (p. 101)

Essa hierarquia entre os espaços é criada, também, pela desigualdade da disponibilidade das informações no tempo. A divulgação delas depende das metrópoles, subordinando a elas os lugares com acesso restrito ou atrasado das informações. Santos afirma que essa lógica coloca em desuso a antiga questão centro-periferia e da polarização regional. A metrópole agora está em toda parte, diante de uma instantaneidade socialmente sincrônica, o que define a “dissolução da metrópole”.

Também chamada de metrópole transacional, cuja força deriva do controle sobre as atividades hegemônicas, manipula as informações a serviço de seu processo produtivo. Mais uma vez, Milton Santos fala de São Paulo, onde a industrialização possibilitou à essa metrópole novas condições de comando, fundamental para uma transformação qualitativa. Segundo o autor,

“A metrópole informacional assenta-se sobre a metrópole industrial, mas já não é a mesma metrópole. Prova de que sua força não depende da indústria é que aumenta seu poder organizador ao mesmo tempo em que se nota uma desconcentração da atividade fabril.” (p. 103)

São Paulo é então uma metrópole onipresente no território brasileiro. A antiga velocidade das informações fazia a presença dessa cidade chegar em momentos diferentes em diferentes pontos do território. Hoje, graças à informatização, São Paulo está em todos os pontos do território ao mesmo tempo.

Essa situação configura um obstáculo para a planificação regional, já que o território é utilizado de forma desigual por diferentes atores sociais, sendo as grandes empresas hegemônicas que determinam os papéis sociais e econômicos no país. Sobre isso, Santos fez a seguinte crítica:

“O fato de que a força nova das grandes firmas, neste período científico-técnico, traga como consequência uma segmentação vertical do território supõe que se redescubram mecanismos capazes de levar a uma nova horizontalização das relações, que esteja não apenas a serviço do econômico, mas também do social.” (p. 104)


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