NÃO HÁ EDUCAÇÃO SEM VALORIZAÇÃO | ATUALIDADES
Quantas são as profissões que exigem do trabalhador o acúmulo de múltiplas funções? Dentre elas, quantas são exercidas além do ambiente e do horário de trabalho? Pois é! Assim é o ofício do professor. A sala de aula é apenas a ponta do iceberg na sua tarefa de educar e formar os cidadãos. Cabe a ele planejar, elaborar, ministrar, corrigir, avaliar, refletir, replanejar e cumprir demandas burocráticas.
A lei determina que 1/3 da carga horária de trabalho do professor deve ser reservado para as tarefas extrassala e 2/3 para o trabalho efetivo com os estudantes. Temos aqui nosso primeiro obstáculo no que diz respeito ao desenvolvimento da educação no país. É consenso para qualquer teórico da área da educação que o planejamento, a reflexão e o replanejamento são tão importantes quanto a atuação em sala de aula. Para muitos estudiosos, esta etapa é até mais importante do que a atuação em sala de aula.
Mas, da forma como está, de que maneira se preparar de forma efetiva para as aulas? Pense bem: um professor polivalente, que possui uma única turma, tem de planejar, ministrar, refletir e replanejar para diversas disciplinas e o professor aulista, possui várias turmas para fazer esse processo. Como que 1/3 de carga horária seria suficiente para o trabalho mental do professor? Um agravante: as turmas são numerosas e diversas, o que prejudica a inclusão e a reflexão de cada estudante dentro da sua expectativa e necessidades.
Tal situação faz com que os docentes entrem em sala de aula sem se preparar, o que leva a improvisos, estresse e insucessos cada vez mais frustrantes. Alguns poderiam dizer "ah! planeja no seu tempo livre!". E perguntamos "que tempo livre?". Aqui entramos no segundo empecilho para o desenvolvimento da educação: a remuneração.
Com o piso salarial de cerca R$3.500 por mês, a maior parcela dos professores ganham menos do que isso. Parte dos estados brasileiros pagam abaixo do piso. Mal remunerados, muitos professores se desdobram em mais de uma rede de ensino ou em várias escolas para ter um salário razoável. Muitos até possuem outro trabalho em paralelo, sendo ele algum bico ou por aplicativo.
Essa condição deixa os profissionais sobrecarregados o que, logicamente, afeta seu desempenho em sala de aula, já que o cansaço e a falta de planejamento fazem parte desta equação. Tudo isso afasta da carreira os profissionais mais qualificados. Parte deles deixam o magistério para atuar em outra área e a maioria dos que ficam adoecem. E aqui chegamos à terceira pedra no caminho do desenvolvimento da educação.
As doenças psiquiátricas são as que mais afetam os profissionais da educação. Vitimados por tudo que foi relatado acima, muitos deles ainda sofrem com o assédio moral no ambiente de trabalho, desrespeito e indisciplina por parte dos estudantes e hostilidade por parte das famílias. O acúmulo de tudo isso leva os professores a sofrerem com ansiedade, depressão, síndrome do pânico, entre outras.
Quando saem os resultados dos exames nacionais e internacionais, o que ouvimos na mídia? Que os docentes são despreparados, mal formados e até mesmo desleixados (no caso dos concursados). Ignora-se os desafios cotidianos enfrentados pelos professores e pouco se falam sobre os fatores que levam ao bom desempenho dos países que estão no topo dos indicadores da educação.
Uma coisa é fato: não haverá sucesso educacional no país se o professor não for valorizado como sua função exige. Afinal, não somos sacerdotes e nem estamos no ofício por vocação. Somos profissionais e merecemos respeito!
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