A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA - PARTE 06 | FICHAMENTO

 


TEXTO ANTERIOR: A NOVA URBANIZAÇÃO: DIVERSIFICAÇÃO E COMPLEXIDADE

SANTOS, Milton. A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2013.

A DIVERSIDADE REGIONAL

“A complexa organização territorial e urbana do Brasil guarda profundas diferenças entre suas regiões. Em 1980, é a região sudeste a mais urbanizada, com um índice de 82,79%. A menos urbanizada é a região nordeste, com 50,44% de urbanos, quando a taxa de urbanização no Brasil era de 65,57%.” (p. 63)

As disparidades regionais, no que diz respeito à urbanização, são muito antigas. Contudo, com o aumento da população urbana desde a década de 1940, essa desigualdade entre as regiões se ampliaram ainda mais.

O Sudeste foi quem experimentou os maiores avanços. Com 39% de urbanização em 1940, já acima do conjunto do país, ainda em 32,2, a Região saltou para 48% em 1950 enquanto o Brasil como um todo avançou apenas 4%.

Apesar do destaque do Sudeste, a urbanização avançou em todas as regiões. A partir dos anos 1970 é o Centro-Oeste quem cresce mais rápido. Em 1980 a região já possuía taxa de 68% enquanto o Brasil ainda estava em 55,9% de urbanização.

O Norte e o Centro-Oeste, aliás, foram as regiões com mais acelerado ritmo de crescimento da população urbana entre os anos 1960 e 1980, elevando sua taxa acima da região Sul. Já o Nordeste e o Sudeste tiveram, no mesmo período, crescimento abaixo do restante. 

“Enquanto o território não é unificado pelos transportes, pelas comunicações e pelo mercado, e a urbanização não se torna um fenômeno generalizado sobre o espaço nacional, a simples comparação dos seus índices entre diferentes regiões e cidades pode levar a equívocos de interpretação.” (p. 65)

Para reforçar esse risco de equívoco, o autor traz alguns exemplos. O primeiro deles é a Amazônia, historicamente de baixa densidade econômica e demográfica, mas com pontos de urbanização importantes que atuavam como sedes do poder político-administrativo regional.

O segundo exemplo é o Sul e o Sudeste, cujo maior desenvolvimento da rede urbana e a interação entre as cidades intensificaram o processo de divisão do trabalho e integrou essas regiões na divisão internacional do trabalho.

Por fim, Santos fala do Norte, cuja densidade urbana se amplia a partir dos anos 1960 intensificando o intercâmbio desta com as demais regiões.

Além dos avanços quantitativos, o autor fala das transformações qualitativas processadas na década de 1970. Entre elas podemos citar o processo de modernização do território e implementação da divisão do trabalho. Esta se deu de forma diferente em cada região e foi influenciada pelo desenvolvimento histórico de cada espaço. Segundo Santos,

“O simples exame dos números da urbanização nas diversas regiões pode dar a impressão de uma evolução contraditória. Não se trata disso. A partir do momento em que o território brasileiro se torna efetivamente integrado e constitui-se como mercado único, o que à primeira vista aparece como evolução divergente é, na verdade, um movimento convergente” (p. 67)

Essa desigualdade regional é fruto de uma divisão territorial do trabalho em escala nacional, que estabeleceu uma lógica comum aos subespaços do país. Cada fração do território foi privilegiada de forma diferente considerando a evolução de cada lugar, associada às heranças dos períodos passados.

É por isso que precisamos compreender melhor o passado da formação do território brasileiro para que possamos entender essas diferenças nos índices de urbanização e nas estruturas locais de cada região.

O Norte e o Centro-Oeste tiveram a modernização implantada praticamente sobre o vazio demográfico. Como uma folha em branco, essas regiões não apresentaram obstáculos, resultando em maior receptividade à urbanização e às inovações impostas ao território. Isso também permitiu a instalação de uma estrutura completamente nova a serviço da economia global e moderna, favorecendo uma urbanização mais veloz.

O Nordeste, ao contrário, já possuía uma estrutura fundiária e econômica consolidadas, além de um forte poder local. Essa condição fez com que a região mantivesse a pobreza e a desigualdade, além de impedir uma urbanização agressiva estando, assim, resistente às inovações estruturais.

O Sudeste, por sua vez, se adaptou progressivamente aos interesses do grande capital e se colocou como polo de atração e recepção de cada nova modernidade imposta. Essa região está sempre abandonando o passado e se reconstruindo, tornando a divisão do trabalho cada vez mais acentuada, trazendo uma tendência à urbanização, também impulsionada pela imigração e pelas demandas do consumo industrial.

Por fim, a Região Sul se caracteriza pela diversidade. Nela existiam povoamentos antigos e de antiga mecanização ao lado de áreas de incorporação tardia ao meio técnico.

Contudo, para compreender essa desigualdade regional que se manifesta no território brasileiro, é necessário olhar além das grandes regiões. Os diversos espaços do país apresentam evoluções particulares que só podem ser captadas se olharmos mais de perto.

Amazônia e Mato Grosso do Sul são exemplos dessa necessidade. Enquanto o primeiro se caracteriza por uma colonização descontinuada com mobilização de menos capitais e presença de mais trabalho, o segundo possui maior densidade de ocupação, com maior concentração de capital e de técnica. Para o autor,

“O que há de comum nesses subespaços é o aparecimento de um processo vigoroso de urbanização paralelamente às novas vagas de povoamento e, nisso, essas áreas se distinguem do restante do país, onde, em relação ao povoamento, a urbanização (do território e não apenas pontual) verifica-se com atraso.” (p. 71)

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