A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA - PARTE 05 | FICHAMENTO
TEXTO ANTERIOR: INTRODUÇÃO
SANTOS, Milton. A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2013.
A URBANIZAÇÃO PRETÉRITA
“Durante séculos o Brasil como um todo é um país agrário, um; país ‘essencialmente agrícola’, para retomar a célebre expressão do conde Afonso Celso” (p. 19)
Foi durante o início da colonização que se deu as primeiras tentativas de urbanização no território, mais precisamente na Zona da Mata nordestina, com destaque para Salvador. A então capital da colônia é apontada pelo autor como a primeira rede urbana de todo o continente americano.
A cidade é, ainda, uma invenção moderna no Brasil, já que o povo e a civilização brasileira se formaram no campo. Essa cidade, inicialmente refletia os desígnios do poderoso local e evoluiu sob a conjuntura de diversos fatores políticos e econômicos, modificando o modelo até então importado da Europa.
Milton Santos aponta três etapas importantes da organização do território brasileiro identificadas por Nelson Goulart Reis Filho. A primeira delas se deu entre os anos de 1530 e 1570, onde se destacou a fundação do Rio de Janeiro; em seguida temos o período entre 1580 e 1640 com a fundação de 10 vilas e 3 cidades; e, por fim, o intervalo entre os anos de 1650 e 1720, quando foram fundadas 35 vilas e Olinda e São Paulo foram elevadas à categoria de cidades. Segundo Santos,
"Goulart Reis Filho (1968) inclui, como elementos explicativos da urbanização [...]: a organização político-administrativa, considerados, de um lado, as capitanias e o governo-geral e, de outro, a organização municipal; as atividades econômicas rurais [...] e as camadas sociais correspondentes, a começar pelos proprietários rurais; as atividades econômicas urbanas e seus atores." (p. 20)
É no século XVIII que a cidade desponta como residência oficial do grande fazendeiro, ficando a propriedade rural como local de visita nos momentos mais importantes da produção, como é o caso da colheita. Logo, no processo de criação urbana no Brasil, as cidades surgem em subordinação à economia rural. Nesse contexto, existia uma fraca relação entre os lugares no Brasil até que um novo impulso dado pela mecanização do campo começasse a estreitar a relação entre os espaços.
No fim do período colonial, segundo dados de Caio Prado Júnior trazidos pelo autor, São Luís, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo abrigavam 5,7% da população do país, totalizando 2,5 milhões de habitantes. Milton Santos reforça os dados ao escrever que,
"Basta lembrar que; na passagem do século XVII para o século XVIII, Salvador já reunia 100 mil moradores, enquanto nos Estados Unidos nenhuma aglomeração tinha mais de 30 mil." (p.22)
Dados de 1872 apontam 5,9% de população urbana no país e apenas três capitais com mais de 100 mil habitantes, sendo Rio de Janeiro, com cerca de 275 mil, Salvador, com aproximadamente 129 mil, e Recife, girando em torno de 116,5 mil. Apenas Belém, próximo dos 62 mil, é quem tinha mais de 50 mil habitantes.
Já em 1900, a população urbana saltou para 9,4% dos brasileiros, totalizando 1,2 milhões de pessoas. Eram quatro as cidades com mais 100 mil habitantes: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife. Próximo dos 50 mil moradores estavam Porto Alegre, Niterói, Manaus, Curitiba e Fortaleza. Milton Santos ainda reforça o crescimento da população no Brasil e faz um alerta os dados trazidos até aqui:
"O fato é que a população brasileira subira de 9,9 milhões para 14,3 milhões, crescendo mais de 40% em apenas quinze anos. Todos esses dados, porém, devem ser tomados com cautela, já que somente após 1940 as contagens separavam a população urbana (cidades e vilas) da população rural do mesmo município." (p. 24)
O período situado entre os anos de 1890 e 1920 foi de baixo crescimento urbano, onde o salto se deu de 6,8% do total dos brasileiros para 10,7%. Mas, depois disso, a urbanização se acelerou. Entre 1920 e 1940 o país atingiu o percentual de 31,4% de população urbana, sendo de 4,5 milhões de pessoas em 1920 para 6,2 milhões em 1940.
Nessa época, o Brasil assistiu o aumento da população ocupada no setor de serviços, que cresceu a uma taxa de 60%. A participação da população economicamente ativa nos setores primário e secundário, no entanto, diminuiu, destacando-se o Estado de São Paulo. A população urbana cresceu 43%, favorecida pelo investimento em infraestrutura de comunicação, transporte, educação e finanças. O autor da obra ainda complementa que,
"A urbanização brasileira conhece, nitidamente, dois grandes regimes, ao longo de diferentes periodizações que se propunham após os anos de 1940-1950, os nexos econômicos ganham enorme relevo, e impõem-se às dinâmicas urbanas na totalidade do território [...]; e, antes desse momento, o papel das funções administrativas tem, na maior parte dos estados, uma significação preponderante." (p. 27)
Até a Segunda Guerra Mundial, a evolução das cidades brasileiras foi oscilante e restrita a determinadas localidades. Com a base econômica do país ainda fundamentada na agricultura, a maior parcela dos brasileiros urbanos viviam em capitais de estados cuja atividade extrativa era predominante.
O país se configurava como um grande arquipélago, onde os subespaços desenvolviam-se por lógicas próprias, sempre ditadas por suas relações com o mercado externo. São Paulo, a partir do século XIX, se estabeleceu como polo dinâmico brasileiro com a produção do café, carecendo e promovendo a fluidez dos meios de transporte e de comunicação, além de implementar formas capitalistas modernas de produção.
"Trata-se, porém, de uma integração limitada, do espaço e do mercado, de que apenas participa uma parcela do território nacional. A divisão do trabalho que se opera dentro dessa área é um fator de crescimento para todos os seus subespaços envolvidos no processo e constitui um elemento de sua crescente diferenciação em relação ao restante do território brasileiro." (pp. 29-30)
Esse momento dura até a década de 1930, quando é dado um novo impulso à industrialização. O estado de São Paulo, pelas condições tratadas há pouco, se estabeleceu como polo industrial e adquiriu papel de grande importância no mercado interno, inaugurando uma nova lógica territorial.
Esse complexo processo de industrialização formou um mercado nacional, constituiu equipamentos e infraestruturas para integrar o território, expandindo diversas formas de consumo e impulsionando o processo de urbanização. Para finalizar, Milton Santos escreveu que
"Essa nova base econômica ultrapassa o nível regional, para situar-se na escala do país; por isso, a partir daí, uma urbanização cada vez mais envolvente e mais persistente no território dá-se com o crescimento demográfico sustentado das cidades médias e maiores, incluídas, naturalmente, as capitais dos Estados." (p. 30)
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