A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA - PARTE 04 | FICHAMENTO

 

TEXTO ANTERIOR: O MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO

SANTOS, Milton. A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2013.

A NOVA URBANIZAÇÃO: DIVERSIFICAÇÃO E COMPLEXIDADE

“Esse movimento de fundo, no território e na sociedade, vai dar, em consequência, uma nova urbanização brasileira. Um dos elementos fundamentais de sua explicação é o fato de que aumentou no Brasil, exponencialmente, a quantidade de trabalho intelectual. Não se dirá, com isso, que população brasileira se haja tornado culta, mas tornou-se mais letrada. O fato de ter-se tornado mais letrada está em relação direta com a realidade que vivemos neste período científico-técnico, onde a ciência e a técnica estão presentes em todas as atividades humanas.” (pp. 53-54)

A redução da produção material no meio técnico-científico, caracterizado pela ampliação do processo de terciarização das atividades econômicas, demandou cada vez mais trabalho intelectual em oposição ao trabalho braçal. O espaço urbano ampliou-se ainda mais diante da necessidade de concentrar as respostas para as necessidades produtivas do atual momento.

Milton Santos traz para o leitor duas modalidades de consumo neste mundo moderno: O consumo consuntivo gera uma demanda homogênea em compatibilidade com os estratos de renda. Neste conjunto, se reproduz a arquitetura urbana, onde a diferença aparece apenas no que diz respeito à distância entre os núcleos urbanos de mesmo nível.

Já o consumo produtivo, gera demanda também heterogênea, mas compatível com os diferentes subespaços com diversidade da arquitetura urbana, tornando mais importante os grandes centros e ainda mais complexa a divisão do trabalho.

O autor aponta a modernização do campo fundamental para o funcionamento do mundo moderno. Antes gerador de consumo consuntivo, cuja expressão se dava na proporção em que os excedentes eram gerados.

Neste contexto, surge a indústria agrícola não urbana, modificadoras do próprio sistema urbano. Dela surgem empresas hegemônicas dotadas de grande poder e capital, promovendo mudanças tecnológicas e institucionais. Estas empresas,

“Fortes por sua influência junto ao Estado, terminam por mudar as regras do jogo da economia e da sociedade à sua imagem. Dotadas de capacidade de inovação que as outras não têm, fazem com que o território passe a ser submetido a tensões muito mais numerosas e profundas, pulsações que, vindas de grandes firmas, impõem-se sobre o território, levando a mudanças rápidas e brutais dos sistemas territoriais em que se inserem.” (p. 55)

As cidades locais, que antes eram dos notáveis, cujas personalidades presentes davam o tom do funcionamento social, se converteram em cidades econômicas, necessitando de profissionais altamente especializados e servindo de estoque para elementos diversos, como tecnologias, mão de obra e meios de consumo. Os meios de transporte e de comunicações fizeram delas centros de comandos, capazes de portar e transmitir ordens e mensagens ao restante.

No contexto atual, os lugares estão diretamente ligados ao processo produtivo. Fornecendo trabalhos, produtos e serviços necessários, eles controlam profundamente a vida econômica aumentando seu poder político.

“A cidade torna-se o locus da regulação do que se faz no campo. É ela que assegura a nova cooperação imposta pela nova divisão do trabalho agrícola, porque obrigada a afeiçoar-se às exigências do campo, respondendo às suas demandas cada vez mais prementes e dando-lhe respostas cada vez mais imediatas.” (p. 56)

O crescimento da população de agricultores residentes nas cidades contribuiu para ainda mais urbanização, transformando ainda mais o campo.

A divisão social do trabalho se ampliou com  a diferenciação territorial e regional, especializando ainda mais as cidades locais, fazendo crescer ainda mais as desigualdades espaciais.

Com a distribuição das funções produtivas entre as cidades, desenvolve-se uma divisão interurbana do trabalho. Tal processo se deu favorecido pela fluidez, possibilitada pela maior acessibilidade física e financeira das pessoas, tornando o crescimento do consumo proporcional à produção.

Surge uma nova hierarquia urbana. A fluidez ampliou o alcance das metrópoles, tornando ainda mais complexo o espaço urbano, com metrópoles cada vez mais onipresentes no território. Essa onipresença, aliada ao maior poder de comando e atração de pessoas e capitais caracterizou as cidades de grande porte. Nesse processo, se redistribuíram as classes médias.

“Por isso assistimos, no Brasil, a um fenômeno paralelo de metropolização e desmetropolização, pois, ao mesmo tempo, crescem cidades grandes e cidades médias, ostentando, ambas as categorias, incremento demográfico parecido, por causa em grande parte do jogo dialético entre a criação de riqueza e de pobreza sobre o mesmo território.” (p. 60)

Santos aponta para um processo de involução metropolitana com redução do crescimento econômico das grandes cidades tradicionalmente hegemônicas em comparação com as regiões de agricultura moderna. Estas, carregadas de capital velho, possuem maior facilidade para substituir técnicas e redirecionar investimentos, possuindo menores obstáculos para transformar o espaço.

O campo se transforou em depósito para fatores de produção industrial, mas a regulação se dá nas cidades. No entanto,

“O consumo produtivo rural não se adapta às cidades, mas, ao contrário, adapta-as. Estas são chamadas a dar respostas particulares às necessidades das produções particulares, e daí a maior diferenciação entre as cidades. Elas se diferenciam cada vez mais pelo fato de o nexo do consumo produtivo ser ligado à necessidade de encontrar, no lugar e na hora, respostas indispensáveis à marcha da produção.” (p. 61)

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