PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - PARTE 11 | FICHAMENTO
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FREIRE, PAULO. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 49. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
ENSINAR EXIGE SESGURANÇA, COMPETÊNCIA PROFISSIONAL E GENEROSIDADE
"Segura de si, a autoridade não necessita de, a cada instante, fazer o discurso sobre sua existência, sobre si mesma. Não precisa perguntar a ninguém, certa de sua legitimidade, se ‘sabe com quem está falando’. Segura de si, ela é porque tem autoridade, porque a exerce com indiscutível sabedoria.” (p. 89)
A competência profissional é indispensável à prática docente, funda a autoridade e resulta da seriedade com que o professor trata a próxima formação, conferindo força moral à tarefa educativa. Outro elemento indispensável é a generosidade, que para Freire, possibilita o exercício da autoridade e da liberdade com limites eticamente assumidos por professores e estudantes.
É a generosidade que, contraria a mesquinhez e soberba de muitos, nega a arrogância e propicia relações mais justas. A falta de generosidade dá margem ao gosto pelo mando, desfavorecendo a curiosidade e criando uma falsa sensação de controle de sala, já que, no entender de Paulo Freire,
"A autoridade coerentemente democrática está convicta de que a disciplina verdadeira não existe na estagnação, no silêncio dos silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que instiga, na esperança que desperta." (p. 91)
A autoridade democrática praticada de forma coerente está fundada na importância dos educandos para a construção da disciplina sem minimizar a liberdade. Ao reconhecer a eticidade de sua presença no mundo, o educando se permite assumir a responsabilidade por suas ações sem negar os riscos de suas decisões.
Tal processo é fundamental para a construção da autonomia, tornando possível o exercício da liberdade em gradativa substituição da dependência. Ao assumir a responsabilidade sobre a construção do próprio conhecimento, o educando reconhece o respeito à autonomia dos outros num ambiente de empatia e cooperação mútua.
O autor cita como elementos inseparáveis na prática docente os conteúdos da formação ética, a teoria da prática, a autoridade da liberdade, a ignorância do saber e o respeito ao professor e aos educandos. Para que esse último seja alcançado, o autor pontua que,
"Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós, tanto mais me convenço do dever nosso de lutar no sentido de que ela seja realmente respeitada. O respeito que devemos como professores aos educandos dificilmente se cumpre, se não somos tratados com dignidade e decência pela administração privada ou pública da educação." (pp. 93-94)
ENSINAR EXIGE COMPROMETIMENTO
Ao se envolver com a prática democrática e progressista, o educador não esconde dos estudantes sua maneira de ser, não nega suas posições política e, inevitavelmente, estará exposto à apreciação dos deles. Esse envolvimento pressupõe a necessidade de aproximar o discurso da prática, sendo verdadeiro com seus educandos preservando o crédito junto a eles.
A sinceridade nas respostas, a rejeição à discriminação e o afastamento são outros elementos do professor comprometido com sua prática e com seus estudantes. A tarefa do professor progressista é se atentar e criticar o discurso reacionário, aquele se diz neutro por excelência promovendo treino disfarçado de conduta despolitizada. Sobre isso, Freire deixa claro que,
"Enquanto presença não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Deve revelar aos alunos a minha capacidade analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem de ser meu testemunho." (p. 96)
ENSINAR EXIGE COMPREENDER QUE A EDUCAÇÃO É UMA FORMA DE INTERVENÇÃO NO MUNDO
A educação é uma forma de intervenção no mundo, podendo reproduzir ou desmantelar a ideologia dominante. Não existe meio termo. Para a ideologia dominante, a educação ideal é aquela que imobiliza e oculta as verdades, muitas vezes vestindo um falso caráter progressista quando o momento exige, como, por exemplo, o estímulo ao avanço técnico carregado de neutralidade limitando-se à ideias que não confrontam a ordem estabelecida. Freire exemplifica isso escrevendo que,
"[...] o empresário moderno aceita, estimula e patrocina o treino técnico de ‘seu’ operário. O que ele necessariamente recusa é a sua formação que, envolvendo o saber técnico e científico indispensável, fala de sua presença no mundo." (p. 100)
Promovendo a resignação em nome da ordem e da paz, a educação da ideologia dominante criminaliza o que Freire classifica como a justa ira e a rebeldia dos oprimidos, prega a eficácia técnica e enaltece a adaptação e aceitação das coisas tais como elas são.
Neste contexto, a tarefa do professor progressista é tomar posição sem fazer escolhas vagas e ambíguas, se colocando a favor da decência contra o despudor e ao lado da liberdade contra o autoritarismo. O professor progressista exerce a autoridade em oposição à licenciosidade e rejeita qualquer forma de ditadura. Esse professor repudia a discriminação, combate a dominação dos indivíduos e das classes sociais e não reduz sua prática ao ensino dos conteúdos. Ao dar seu testemunho pessoal, Paulo Freire diz que,
"Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar." (pp. 100-101)
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