PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - PARTE 10 | FICHAMENTO

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FREIRE, PAULO. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 49. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

ENSINAR EXIGE CURIOSIDADE

“Se há uma prática exemplar como negação da experiência formadora é a que dificulta ou inibe a curiosidade do educando e, em consequência, a do educador.” (p. 82)

A negação da curiosidade na prática educativa é resultado de procedimentos autoritários de ensino, que burocratiza a ação formador. Ao priorizar o processo de memorização mecânica, sufocando o real aprendizado, o professor não se permite aprender ao ensinar, já que,

"A construção ou a produção do conhecimento do objeto implica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de ‘tomar distância’ do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, de cindi-lo, de ‘cercar’ o objeto ou fazer sua aproximação metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar." (p. 83)

A boa prática progressista é aquela que permite ao aluno aprender com sua própria curiosidade. Mas Freire adverte que que essa curiosidade deve estar contida nos limites eticamente assumidos pelo próprio educando, já que ela não dá ao estudante o direito de fazer o que bem entender. Ao exercer sua curiosidade da forma correta, é possível estimular a pergunta promovendo a reflexão crítica. Colocando essas ideias em prática, Freire afirma que,

"Sua aula é assim um desafio e não uma ‘cantiga de ninar’. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas." (p. 84)

O autor deixa claro que a dialogicidade não reduz a prática docente e não proíbe que haja momentos explicativos e expositivos no ensino. Pelo contrário, o diálogo promove a curiosidade epistemológica entre professores e estudantes. Essencial à experiência humana, a curiosidade faz com que possamos imaginar e intuir, induzindo a conjectura e a comparação, promovendo o rigor metódico por meio de sua repetição.

Tal procedimento só será possível com o tratamento correto da autoridade-liberdade, que depende da harmonia e do equilíbrio, necessitando que educadores e educandos assumam os limites praticando o respeito mútuo. Ao analisar o trabalho do educador, Paulo Freire afirma que,

"O que devo dizer é o seguinte: não devo pensar apenas sobre os conteúdos programáticos que vêm sendo expostos ou discutidos pelos professores das diferentes disciplinas, mas, ao mesmo tempo, a maneira mais aberta, dialógica, ou mais fechada, autoritária, com que este ou aquele professor ensina." (p. 87)

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