PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - PARTE 09 | FICHAMENTO
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FREIRE, PAULO. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 49. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
ENSINAR EXIGE ALEGRIA E ESPERANÇA
"Seria uma contradição se, inacabado e consciente do inacabamento, primeiro, o ser humano não se inscrevesse ou não se achasse predisposto a participar de um movimento constante de busca, e segundo, se buscasse sem esperança." (p. 70)
Paulo Freire aponta a alegria e a esperança como possibilidades de sucesso no ensino e no aprendizado, permitindo o exercício da inquietude e da produção e servindo de instrumentos para que possamos resistir aos obstáculos impostos.
A esperança, parte da natureza humana, é indispensável à experiência histórica, na medida em que a desesperança, que Freire aponta como distorção da esperança, se impõe como obstáculo ao ímpeto humano promovendo o determinismo histórico. O autor deixa isso claro ao dizer que,
"Por tudo isso me parece uma enorme contradição que uma pessoa progressista, que não teme a novidade, que se sente mal com as injustiças, que se ofende com as discriminações, que se bate pela decência, que luta contra a impunidade, que recusa o fatalismo cínico e imobilizante, não seja criticamente esperançosa." (p. 71)
A desesperança leva à desproblematização do futuro, que sufoca de forma autoritária os sonhos, desestimulando a luta por melhores dias e rompendo com a natureza humana. O discurso da adaptação, próprio daqueles que pregam um futuro já determinado, imobiliza e silencia, elogia o sofrimento sob a forma de resignação, impondo a dominação das elites sobre os dominados. Diante das injustiças, Paulo Freire diz que,
"Não posso, por isso, cruzar os braços fatalistamente diante da miséria, esvaziando, desta maneira, minha responsabilidade no discurso cínico e ‘morno’, que fala da minha impossibilidade de mudar porque a realidade é mesmo assim." (p. 74)
ENSINAR EXIGE CONVICCÃO DE QUE A MUDANÇA É POSSÍVEL
O educador tem como tarefa primordial ver a história como possibilidade e mostrar aos seus educandos que o mundo é passível de ser transformado. O estudante que adquire essa visão pode intervir como sujeito, mudando a realidade ao invés de se adaptar, fundando a rebeldia diante das condições estabelecidas. Paulo Freire diz que o discurso do estudo pelo estudo deve ser prontamente rejeitado:
"É por isso também que não me parece possível nem aceitável a posição ingênua ou, pior, astutamente neutra de quem estuda, seja o físico, o biólogo, o sociólogo, o matemático, ou o pensador da educação. Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra." (p. 75)
A rebeldia, se engajar as pessoas no processo de transformação do mundo, se converte em revolução e é o ponto de partida para a mudança. Para isso, é necessário denunciar e promover a superação das injustiças.
A mudança do mundo não se dá pela imposição da rebeldia e da movimentação. Para que ela seja possível é necessário exercitar a percepção das injustiças paralelamente ao trabalho pedagógico. O próprio oprimido precisa perceber suas contradições ao fazer o jogo do opressor. O autor exemplifica que,
"É a partir deste saber fundamental - mudar é difícil mas é possível - que vamos programar nossa ação político-pedagógica, não importa se o projeto com o qual nos comprometemos é de alfabetização de adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se de evangelização, se de formação de mão de obra técnica." (p. 77)
A tarefa do educador é fazer com que o estudante possa ler e compreender o mundo, trabalhando os conteúdos a partir de seus saberes e experiências ao invés de impor o próprio saber como verdadeiro.
O diálogo deve fundar a prática, trazendo a conscientização das condições impostas à comunidade da qual o educando faz parte. Logo, eles perceberão que o futuro não é imutável e compreenderão que não são os culpados pela sua condição.
Para finalizar, segue um questionamento de Paulo Freire,
"Como alfabetizar sem conhecimentos precisos sobre a aquisição da linguagem, sobre linguagem e ideologia, sobre técnicas e métodos do ensino da leitura e da escrita? Por outro lado, como trabalhar, não importa em que campo, [...] sem ir conhecendo as manhas com que os grupos humanos produzem sua própria sobrevivência?" (p. 78)
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