APOLOGIA DA HISTÓRIA - PARTE 05 | FICHAMENTO

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BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Tradução, André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA OBSERVAÇÃO HISTÓRICA

“O historiador, por definição, está na impossibilidade de ele próprio constatar os fatos que estuda. Nenhum egiptólogo viu Ramsés; nenhum especialista das guerras napoleônicas ouviu o canhão de Austerlitz. Das eras que nos precederam, só poderíamos [portanto] falar segundo testemunhas. [...] Em suma, em contraste com o conhecimento do presente, o do passado seria necessariamente ‘indireto’.” (p. 69)

Diferentemente de um perito criminal que coleta as provas e indícios, do médico que pode examinar o paciente, ou do químico que pode testar as fórmulas e hipóteses em laboratório, o historiador não tem as mesmas condições de ter o contato direto com o objeto estudado. Diferente do estudo do presente, a análise do passado só pode ser realizada por meio da verificação dos vestígios.

A fidelidade deles em relação ao momento estudado é impossível de se estabelecer, já que estes se constituem em fontes secundárias. Além disso, a interpretação dos vestígios podem vir carregadas de impressões pessoais e pelas confusões do momento, que podem contaminar a pesquisa.

Bloch questiona se a observação direta é privilégio apenas do presente. Diante de um horizonte muito vasto de pesquisas, até mesmo o momento imediato depende de relatos secundários. Eles podem ser fornecidos por estudos feitos por outras pessoas que não o historiador, dependem da opinião pública sobre o fato, se vale de imagens formadas por terceiros e estão limitados à disponibilidade do outro. Segundo Bloch, isso acontece

"Porque no imenso tecido de acontecimentos, gestos e palavras de que se compõe o destino de um grupo humano, o indivíduo percebe apenas um cantinho, estreitamente limitado por seus sentidos e sua faculdade de atenção; [...] todo conhecimento da humanidade, qualquer que seja, no tempo, seu ponto de aplicação, irá beber sempre nos testemunhos dos outros uma grande parte de sua substância." (p. 70)

Na observação do passado, a teoria que privilegiava os acontecimentos defendia o maior distanciamento entre o pesquisador e seu objeto de estudo. Acreditava-se que só assim a pesquisa não seria contaminada pelas sensações de seu agente dando possibilidade de reconstruir com exatidão o passado. Porém, é impossível de se obter um testemunho fiel dos fatos, que são cada vez mais defasados na medida em que são transmitidos ao longo do tempo.

No entanto, numa visão mais progressista de reconstrução do passado, seria permitido ao pesquisador supor e deduzir, se apoiar em testemunhos da época ou, na ausência destes, fazer analogia com testemunhos semelhantes de outros tempos e lugares. Também transformamos a visão sobre os vestígios do passado ao considerar os dos tipos materiais e imateriais com mesmo grau de importância. Por isso, Bloch afirma que

"Não é absolutamente verdade [...] que o historiador seja necessariamente reduzido a só saber o que acontece em seu laboratório por meio de relatos de um estranho. Ele só chega depois de concluído o experimento, sempre. Mas, se as circunstâncias o permitirem, o experimento deixará resíduos, os quais não é impossível que perceba com os próprios olhos." (pp. 72-73)

O conhecimento dos fatos humanos do passado, através de vestígios de todos os tipos e a experimentação psicológica, particular e apoiada no relato de testemunhas, tornam impossível conhecer com fidelidade os pensamentos dos agentes históricos, assim como as manifestações oficiais, são particularidades da observação histórica. Mesmo o estudo do presente não escapa à imprecisão dos relatos e, por estar baseado na memória dos indivíduos, se vê prejudicado por possíveis interrupções dos registros. 

O conhecimento do passado está constantemente em progresso e em permanente transformação e aperfeiçoamento. Novos vestígios modificam o que se conhecia e o desenvolvimento de novos procedimentos de investigação permitem a melhor interrogação das fontes, mesmo não eliminando a inexatidão.

Sobre a reconstrução do passado, Bloch escreveu:

"É que os exploradores do passado não são homens completamente livres. O passado é seu tirano. Proíbe-lhes conhecer de si qualquer coisa a não ser o que ele mesmo lhe fornece [...]. [[...] Nessa rigorosa submissão a um inflexível destino, não estamos - nós, pobres adeptos frequentemente escarnecidos das jovens ciências do homem - melhores do que muitos de nossos confrades, dedicados a disciplinas mais antigas e mais seguras de si.]." (pp. 75-76)

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