APOLOGIA DA HISTÓRIA - PARTE 03 | FICHAMENTO
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1.4 O ÍDOLO DAS ORIGENS
“[a palavra origem] Significa simplesmente começo? Isso seria quase claro. Com a ressalva, entretanto, de que, para a maioria das realidades históricas, a própria noção desse ponto inicial permanece singularmente fugaz. Caso de definição, provavelmente. De uma definição que [, infelizmente,] esquece-se muito facilmente de fornecer.” (p. 56)
Bloch fala sobre o estudo das origens como uma obsessão dos historiadores, transformando o passado no principal tema das pesquisas. Para ele, o termo origem é ambíguo e ambicioso que pode nos remeter a causa ou começo que explica algo. Nessa obsessão, os historiadores tentaram estabelecer uma simultaneidade entre as ciências humanas e as ciências naturais, dominados pela ideia do evolucionismo biológico que os afastava progressivamente das formas anteriores de ver as ciências. Bloch ainda pontua que
"Este gosto apaixonado pelas origens, a filosofia francesa da história, de [Victor] Cousin a Renan, recebera, acima de tudo, do romantismo alemão. Ora, em seus primeiros passos, este fora contemporâneo de uma fisiologia bem anterior à nossa: a dos pré-reformistas que acreditavam encontrar, ora no esperma, ora no ovo, um resumo da idade adulta. Acrescentem a glorificação do primitivo. Ele havia sido familiar ao século XVIII francês." (p. 57)
Na França o apreço às origens transmitidos pelos românticos alemães aos discípulos historiadores culminou em diferentes formas de fazer história. Bloch destaca uma história religiosa, que se dedica ao estudo das origens fornecendo critérios para o valor próprio das religiões, sobretudo para o Cristianismo, que o autor apresenta como uma religião eminentemente histórica e com a fé fundamentada em suas origens. Bloch também cita o estudo da nação, onde o passado serve para explicar o presente, seja na tarefa de justificar os atos ou condená-los.
Ainda sobre os estudos cristãos, o autor questiona a obsessão pelas origens ao afirmar:
"Uma coisa é, para a inquieta consciência que busca uma regra para si, fixar sua atitude em relação à religião católica, tal como é definida cotidianamente; outra coisa é, para o historiador, explicar o catolicismo presente como um fato de observação. Indispensável, é claro, a uma correta observação dos fenômenos religiosos atuais, o conhecimento de seus primórdios não basta para explicá-los." (p. 58)
Dessa forma, a busca pela manutenção das tradições cristãs como uma hipótese científica torna possível a crença e permite a análise de diversos traços convergentes, como a mentalidade e a estrutura social. Essa busca gerou dúvidas que, segundo Bloch, se aplica à toda atividade humana.
O autor fala, ainda, sobre a possibilidade de confundir filiação com explicação. Ou seja, a busca da origem, dos significados como solução para as questões humanas. A filiação, sinônimo de etimologia, apresenta o mais antigo sentido para as coisas atuais, se limitando apenas aos significados dos termos. A explicação, por sua vez, exige a análise do contexto e das transformações que ocorreram. Bloch exemplifica a diferença entre filiação e explicação ao falar sobre a palavra “timbre”, um termo francês para selo:
"Quando peço “timbres” no guichê do correio, o emprego que assim faço do termo exigiu, para se estabelecer, junto com a organização lentamente elaborada de um serviço postal, a transformação técnica, que, para grande benefício das trocas entre pensamentos, substituiu a impressão de lacre pela aposição de uma etiqueta engomada. Ele tornou-se possível apenas porque, especializadas por ofícios, as diferentes acepções da velha palavra se distanciaram demais hoje em dia uma da outra para deixar subsistir o menor risco de confusão entre o timbre de minha carta e aquele, por exemplo, cuja pureza o luthier se gaba em seus instrumentos." (p. 59)
Dessa forma, estudar as origens vai muito além de resgatar o significado de algo. Requer análise profunda e compreensão das transformações existentes. Ao estudar as origens do mundo feudal, deve-se ir além da herança de certos costumes atuais. O mesmo vale para o iluminismo, cujas ideias revolucionárias surgem do contato de publicistas franceses com antigos escritos ingleses do século XVII. Essa influência, contudo, vai muito além do empréstimo e transmissão de ideias, não bastando para esclarecer historicamente as origens desse importante movimento. Logo, se conclui que,
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