APOLOGIA DA HISTÓRIA - PARTE 02 | FICHAMENTO

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BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Tradução, André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.


1.1 A ESCOLHA DO HISTORIADOR

“Seguramente, desde que surgiu, já há mais de dois milênios, nos lábios dos homens, ela [a palavra história] mudou muito de conteúdo. É a sorte, na linguagem, de todos os termos verdadeiramente vivos.” (p. 51)

A palavra história foi trazida da Grécia Antiga, mas o significado deste termo mudou bastante. Delimitá-lo no tempo de Marc Bloch era ainda um trabalho inédito e um saber mal determinado.

Definir a palavra história não remete, contudo, à delimitação do estudo. Essa tarefa nos protegeria da vigilância daqueles que estão de fora, sempre dispostos a julgar o que é história e o que não é, diminuindo, assim, o risco de excluir do ofício aqueles que não se encaixam nos padrões definidos. A partir do conhecimento do conceito de história, o historiador fará uma escolha, delimitando seu trabalho a um ponto específico, mesmo que ainda houvesse um problema de ação para esta ciência.

1.2 A HISTÓRIA E OS HOMENS

Até aquela época, o passado era considerado o objeto de estudo da história. Para Bloch isso não fazia sentido, pois, no entender dele, o passado não poderia ser objeto de nenhuma ciência, já que não é possível reunir todos os fenômenos em uma única categoria apenas pela sua contemporaneidade.

Em suas origens, a historiografia tratava de narrar os acontecimentos, cujos fatos estavam unidos pelo momento em que ocorreram. Dessa forma, na linguagem tradicional, a história era o estudo da mudança de duração, objeto que, para Bloch, não era propriamente da ciência histórica, pois se constitui como preocupação presente em outras ciências. Segundo o autor,

"Há, nesse sentido, uma história do sistema solar, na medida em que os astros que o compõem nem sempre foram como os vemos. Ela é da alçada da astronomia. Há uma história das erupções vulcânicas que é, estou convencido disso, do mais vivo interesse para a física do globo. Ela não pertence à história dos historiadores" (p. 53)

Diante das dificuldades de categorizar a História dentro das ciências compartimentadas e classificadas, o que causava confusão a qual disciplina pertenceria determinados fenômenos, Bloch se debruça sobre a ação humana. A modelagem do meio de acordo com as necessidades das sociedades constituía um fato eminentemente histórico e, consequentemente, necessário à intervenção do historiador. O ser humano então é classificado como objeto da história. Segundo Bloch,

"Por trás dos vestígios sensíveis da paisagem, [...] por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça." (p. 54)

Mesmo definindo este objeto, o autor aponta alguns problemas epistemológicos acerca da história como conhecimento dos homens. Desde os anos 1800, a história é questionada pelos estudiosos diante do seu trânsito entre as ciências e as artes. A partir dos anos 1890 os positivistas criticam a importância que os historiadores davam à forma e a estética de seus trabalhos. A verdade é que, diferentemente das ciências naturais, a história escapa à rigidez e à razão imposta pelos positivistas. Por se tratar de um estudo do espírito humano, a história necessita de uma linguagem própria, particular. Não pode ser tratada nos rigores de uma descrição técnica. Sobre isso, Bloch escreveu,

"[...] o contraste é, em suma, o mesmo que entre a tarefa do operário fresador e a do luthier: ambos trabalham no milímetro; mas o fresador usa os instrumentos mecânicos de precisão; o luthier guia-se, antes de tudo, pela sensibilidade do ouvido e dos dedos. Não seria bom nem que o fresador se contentasse com o empirismo do luthier, nem que este pretendesse limitar o fresador." (p. 55)

1.3 O TEMPO HISTÓRICO

O tempo é outro objeto de preocupação do historiador. Sem ele, segundo Bloch, a ciência dos homens estaria incompleta. Apenas uma medida para outras ciências, onde pode ser diluído, dividido, calculado e homogeneizado, o tempo para o história é o lugar da inteligibilidade dos fenômenos. Trata-se de um fluxo contínuo, de duração indefinida e em eterna mudança. Ao pensar sobre o tempo para o historiador, Bloch afirmou,

"Nenhum historiador [...] se contentará em constatar que César levou oito anos para conquistar a Gália e que foram necessários quinze anos a Lutero para que, do ortodoxo noviço de Erfurt, saísse o reformador de Wittenberg. Importa-lhe muito mais atribuir à conquista da Gália seu exato lugar cronológico nas vicissitudes das sociedades europeias; e, sem absolutamente negar o que uma crise espiritual como a de irmão Martinho continha de eterno, só julgará ter prestado contas disso depois de ter fixado, com precisão, seu momento na curva dos destinos tanto do homem que foi seu herói como da civilização que teve como atmosfera." (p. 55)

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