A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA - PARTE 01 | FICHAMENTO
INTRODUÇÃO
“A urbanização se avoluma e a residência dos trabalhadores agrícolas é cada vez mais urbana. Mais que a separação tradicional entre um Brasil urbano e um Brasil rural, há, hoje, no país, uma verdadeira distinção entre um Brasil urbano (incluindo áreas agrícolas) e um Brasil agrícola (incluindo áreas urbanas).” (p. 9)
A urbanização brasileira, que antes era seletiva no território, alcançando apenas as áreas litorâneas, se generalizou a partir de meados do século XX. Hoje as cidades estão mais hierarquizadas e categorizadas, o que Santos apontou como as milionárias, as intermediárias e as locais. Porém, todas elas têm em comum o modelo de desenvolvimento, caracterizado pelo espraiamento norteado pela especulação.
No atual perfil urbano, mais complexo, as metrópoles se fazem onipresentes sobre outras cidades diante do aumento dos fluxos de informação, ao mesmo tempo em que essas metrópoles involuem por conta de um crescimento em ritmo menos acelerado que o das cidades menores ou agrícolas.
A grande cidade tornou-se polo de atração e manutenção de pessoas pobres, além de atividades marginais sob diversos pontos de vista. Nelas, os gastos públicos se dão sempre em benefício dos grandes agentes hegemônicos que captam os governos ou se integram a eles. Neste contexto, a expansão urbana é fomentada pela exclusão social, e dos pobres das áreas privilegiadas, alimentando um modelo onde o crescimento de algumas atividades se dá ao lado do empobrecimento da população. Nesse sentido, Milton Santos escreveu que,
"A cidade em si, como relação social e como mentalidade, torna-se criadora de pobreza, tanto pelo modelo socioeconômico, de que é o suporte, como por sua estrutura física, que faz dos habitantes das periferias (e dos cortiços) pessoas ainda mais pobres. A pobreza não é apenas o fato do modelo socioeconômico vigente, mas, também, do modelo espacial." (p. 10)
Com isso, nosso processo de urbanização está ligado ao processo de crescimento da pobreza, onde os pobres foram expulsos do campo pela mecanização ao mesmo tempo em que a indústria nas cidades passaram a gerar pequeno número de postos de trabalho, resultando em trabalhadores urbanos precariamente empregados e mal remunerados no setor terciário.
Santo entende que a solução efetiva para a questão careceria de atenção a uma problemática mais ampla, onde se deveria analisar cientificamente o fenômeno da urbanização, com o objetivo de entendê-la como processo, forma e conteúdo. Assim sendo,
"O nível de urbanização, o desenho urbano, as manifestações das carências da população são realidade a ser analisada à luz dos subprocessos econômicos, políticos e socioculturais, assim como das realizações técnicas e das modalidades de uso do território nos diversos momentos históricos." (p. 11)
Santos critica os estudos até então sobre Urbanização brasileira, apontados por ele como insuficientes sobre o conjunto e vastos sobre fenômenos particulares. A bibliografia sobre o tema raramente é completa.
O autor cita que há uma enorme diversificação dos estudos, com diversidade de lugares, origens e finalidades. Contudo, eles se dão em círculos restritos. Ao mesmo tempo, as listas organizadas em grandes centros de pesquisa se mostram insuficientes para abarcar o todo. A preocupação estatística, por sua vez, inibe a crítica. Milton Santos atenta para o fato de,
"Este tema de estudos ser muito sensível às modas é, certamente, uma das razões do caráter repetitivo dos temas abordados e da dificuldade para encontrar esquemas de trabalho adaptados à realidade e capazes de autorizar um enfoque abrangente,." (p. 13)
Santos critica também o deslocamento dos estudos em relação à história concreta e ao presente da atual formação socioespacial, presente nas aplicações práticas da administração do espaço urbano. Para ele, esta deficiência se faz presente nos planos diretores, onde se desconsidera a cidade como uma parte do todo em relação ao país e ao mundo.
A própria obra não está imune às críticas de Milton Santos. Ele aponta este livro com uma obra de síntese e que, por isso, o direciona para uma crítica muitas vezes ausente nas referências originais; também atenta para o fato de ele, Santos, ser especialista em uma área do conhecimento, que orienta seu entendimento; por fim, como ser humano, ele é levado à certas preferências e escolhas. Tudo isso não exclui, entretanto, a busca de coerência nos argumentos e na interpretação dos fatos. Sobre isso, Milton Santos escreveu que,
"Como em outros casos, este livro é tributário de inúmeras formas de encorajamento e de numerosas contribuições. A primeira é, sem dúvida, o próprio trabalho de outros autores, cujas ideias e dados nos serviram de inspiração e arrimo. A ajuda, próxima ou passada, de agências de fomento à pesquisa foi, igualmente, inestimável, [...] assim como as indagações de meus estudantes me chamaram a atenção para muitos aspectos da problemática." (p. 15)
Para finalizar, o autor aponta para um trabalho realizado a convite de Darcy Ribeiro em 1989, onde integrou um conjunto de estudos sobre a sociedade brasileira. Ele fala então da presença da proposta de Ribeiro nesta obra:
"Este livro é, pois, o resultado de um antigo projeto. A proposta de Darcy Ribeiro não foi abandonada, apenas se reduziu a um capítulo desta pequena obra, incluindo-se numa proposta mais ampla. A urbanização caótica é, na realidade, um aspecto da urbanização corporativa e uma resposta à constituição, no território, de um meio técnico-científico cujo outro, no campo social, é a formação de uma sociedade cada vez mais dual." (p. 16)
PRÓXIMO TEXTO: A URBANIZAÇÃO PRETÉRITA
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